terça-feira, setembro 30, 2008

A presença Islâmica no Torrão/Hisn Turrus

Encontra-se disponível no Site da RTP 2 , no Programa da Comunidade Islâmica de Portugal, uma reportagem sobre a presença islâmica na vila do Torrão do Alentejo, que apresenta imagens da Musalla aí existente.
Este trabalho, elaborado pela Artémis V.P. , contou com o apoio do Município de Alcácer do Sal e da Junta de Freguesia de Torrão.

http://tv1.rtp.pt/multimedia/index.php?pagURL=arquivo&tvprog=1115&idpod=17609&formato=flv&pag=arquivo&pagina=0&data_inicio=&data_fim=&prog=1115&quantos=10&escolha=

8 comentários:

Anónimo disse...

Muitos parabéns por este blog.

De facto, já li com bastante agrado vários artigos deste blog, que felizmente
não é fútil como muitos outros que infestam a net.
Surgiram-me no entanto algumas dúvidas quando li o artigo em que o Senhor Professor
refere que Alcácer era no tempo dos Almorávidas sede de um enorme território que englobava
não só grande parte do actual sul do nosso país, como ainda território actualmente espanhol
que ia até próximo da Região Autónoma de Madrid. É para dizer: "que grande gaiola para tão
pequeno pássaro". Isto não é de maneira nenhuma uma afirmação depreciativa, apenas porque
Alcácer comparada com Badajoz era de facto um "pequeno pássaro".
Além disso, depois da invasão Almóada de 1191, os territórios que foram perdidos na
actual Península de Setúbal foram rápidamente recuperados. Em 1194 Almada, Sesimbra, Palmela
e Montemor-o-Novo já estavam novamente sob poder cristão. Évora e as actuais regiões do
Alto Alentejo a norte de Elvas mantiveram-se em poder dos cristãos, embora seja bem
verdade que nunca tenham sido acometidas, pelo menos não há documentação que o refira.
Se Alcácer tivesse a importãncia estratégica que aparenta no seu artigo referente aos
Almorávidas, só depois de 1217 é que por exemplo, Almada, Sesimbra, Palmela e Montemor-o-Novo
teriam sido recuperadas.
Além disso, voltando à invasão de 1191, não nos podemos esquecer de que o principal
objectivo dos Almóadas era Santarém. Este sim um "grande pássaro", se me permite a espressão.
Alcácer era apenas o "plano B".
Com isto quero dizer que a aparentemente estranha acção dos Almorávidas de fazerem
Alcácer sede daquele enorme território, talvez se devesse ao facto de quererem humilhar
Badajoz, sede da anterior Taifa, e que lhes ofereceu resistência. Badajoz passaria a depender
de uma localidade menor, que ainda por cima estava, no tempo da Taifa, sob seu domínio, como
aliás o Senhor Professor refere e muito bem no seu artigo.
Mas eu queria chamar a atenção para a importãncia económica de Alcácer, esta sim talvez
a verdadeira razão para ser sede da grande região no período Almorávida. Alcácer era de grande
importãncia mais pelo seu papel económico do que pelo seu papel militar.

Ficaria muito honrado em saber a opinião do Senhor Professor em relação ao que aqui acabo de
expôr.

Anónimo disse...

Espectacular este documentário. Mas
isso do padre que disse no séc. xviii (SÉC. XVIII???) que as gentes do Torrão ainda eram mouras no falar e no vestir não me parece de grande credibilidade, já que as comunidades mouriscas hà muito que tinham desaparecido.
Outra coisa duvidosa é a do califa alamuade ter sido derrotado em Santarém em 1189... não terá sido em 1184?
Gostava que me dissessem se estou ou não enganado.

Anónimo disse...

Um excelente apontamento sobre a história do Torrão... mais uma vez Alcácer merece destaque televisivo!

ARC disse...

A questão de serem anónimos dificulta-me responder. Por isso vou denomina-los por ordem de chegada :).
Comentário ao anónimo Nº 2, o que se passa é o seguinte. Efectivamente temos que separar duas questões. 1. as comunidades mouras tecnicamente desapareceram. 2. Alguns padres no século XVIII estavam desconfiados se eles efectivamente desapareceram, o que denota fenómenos de cripto-islamismo que nunca foram estudados e equacionados. Importa relembrar que tecnicamente as comunidades judaicas desapareceram de Belmonte ou Trancoso, assim como o cripto-judaismo, contudo descobriu-se que a memória de ser judeu sobreviveu até à actualidade. Será que no Torrão existiu cripto-islamismo? O unico documento que leva a supor isso é o comentário do Prior do Torrão que passo a transcrever um pouco mais à frente neste comentário.
Por outro lado, este responsável eclesiástico do Torrão, é natural do Norte! O comentário que faz é referente à antiguidade da Fonte Santa. O texto que nos deixou é este (sic)
"...um chafariz chamado a fonte santa com grande fabrica de canos, e altos, que se anda em pé por eles; e dizem ser obra dos Mouros, o que não duvido; porque ainda a terra cheira muito deles, e se vê, que a maior parte das gentes é preta, e muito disfarçada, ou já com os alvear(?), e muitos com o hábito de S. francisco. - escrito na Vila do Torrão, 29 de Junho de 1758, Prior da Matriz do Torrão Francisco Carneiro e Alves.
Em relação à data não ser 1189 tem razão. Foi lapso. A data correcta referente ao desastre de Santarem e que fala deste Torrão do Alentejo ocorreu em 1184.
As filmagens duraram dois dias, no Torrão e Alcácer. Desconheço o numero de programas que foram elaborados, mas tenho indicação que o proximo documentário será emitido no programa da Comunidade Islâmica no dia 23 de Outubro. (julgo que será dedicado só a Alcácer em contexto islâmico)

ARC disse...

Em relação ao comentário do anónimo Nº 1. A resposta foi dada no trabalho em PDF que se encontra alojado no site do municipio de Alcácer. Em sintese, indo directo ao assunto:
- Quem fala da existência de este território alcacerense que na prática é uma copia da Taifa de Badajoz, mas com sede em Alcácer é Al-Idrisi. O que nos poderá fazer confusão, é associarmos pujança económica e demográfica como atributos fundamentais para o domínio de determinados territórios. Cada caso é um caso e o que neste momento estamos a analisar é Alcácer em contexto Almorávida. Que vantagens terá tido Alcácer em relação a Badajoz? Vamos por partes.
1. Castigo politico contra os aftássidas e elites clientes poderosas em Badajos e Évora (a segunda cidade da Taifa de Badajoz).
2. Sendo Alcácer porto de oceânico, têm ligação preveligiada com o Magreb onde se situa o poder do Império Almorávida, tanto da parte Norte como a Saariana.
3. Sendo Alcácer uma medina mais pequena, é fácil os Almorávidas instalarem-se comfortávelmente na alcáçova, sem se preocuparem com os interesses dos alcacerenses. Alcácer é efectivamente uma sede militar e não económica. O objectivo dos almorávidas é controlar a fronteira a partir de Alcácer e canalizar os impostos que são recolhidos ao longo desta vasta fronteira, que depois seriam enviados por via marítima.
4. Os Almorávidas, tal como os Almoadas necessitavam de aliados andaluses, mas o poder e decisão politica só podia ser exercida por Berberes Saarianos. É essa a razão da queda abrupta dos Impérios Magrebinos no al-Andalus. Os andaluses sentiam-se cidadãos de segunda.
5. Quem decide se determinada cidade é capital de uma região ou fronteira é sempre o poder politico. É ele que canaliza os investimentos, e drena os circuitos hierarquicos entre as várias cidades. Muitas vezes, o poder central à revelia das populações, abolia determinadas regiões, criava outras, numa lógica que por vezes nos escapa.
Para concluir, Alcácer em contexto Almorávida foi escolhida para sede da fronteira do Garb, por determinação politica e como castigo contra Badajoz. Espero ter respondido à questão!

Anónimo disse...

A referência do padre aos "mouros" do Torrão não poderia ser uma confusão (da parte dele, evidentemente) em relação aos ecravos africanos (que chegaram no período dos descobrimentos) que aí viviam, e cujos descendentes continuam aí a viver, e alguns deles asumem-no digna e corajosamente, sem rodeios históricos e SEM COMPLEXOS?

João, um descendente de africanos! :)

ARC disse...

É provável! A fonte não é muito clara. Por outra documentação que conheço em relação ao Alentejo, estou convicto que se fossem descendentes de escravos africanos, esse facto seria mencionado. Por outro lado os escravos que vieram para a Bacia do Sado eram quase todos animistas, tornando-se cristãos mais tarde. Tambem havia escravos mouros de Marrocos e da costa da Mauritânia, mas seriam uma minoria, consentrando-se quase todos no Algarve ou na região de Lisboa.
Mas a presença africana não teve início só no periodo dos descobrimentos. Quando Alcácer foi escolhida para sede da fronteira do Garb, quem governava eram berberes Almorávidas, provenientes do deserto do Saara, da actual Mauritânia, Senegal e Mali. As escassas representações que temos de berberes Sarauís, a pele é sempre mais escura. Pouco depois em contexto Almoada, a guarda pessoal (fiel) dos califas eram os escravos africanos que serviam no exército. Eles passaram por Alcácer em 1191, assim como Turcos/Guzi. É de supor que alguns tenham ficado por cá.
Em sintese, a presença africana em Alcácer, encontra-se bem documentada deste o periodo Islâmico, quando esta região é anexada aos vários império Magrebinos. Uns seriam escravos, mas outros eram os chefes politicos/militares de toda esta região.

Anónimo disse...

Não estamos a falar de um punhado de guardas pessoais dos califas. Estamos a falar de populações inteiras que para aí foram, CONTRA A SUA VONTADE, a partir do séc. XV.
Não pedimos indemnizações, gostaríamos apenas que fosse erguido um monumento em memória desses oprimidos. Por exemplo um MUSEU DO ESCRAVO E DO NEGRO, compreende Professor? É por isso que usei a palavra SEM COMPLEXOS.

João