sábado, junho 17, 2006

Estamos de luto pela morte do nosso amigo João Faria

Foi com surpresa e um grande choque que tivemos a notícia da morte repentina do nosso estimado amigo, colega arqueólogo e actual Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Alcácer do Sal.
Peço desculpa mas não consigo escrever muito por agora, dada a situação, mas vou tentar...
Eu conheci o João Faria pela primeira vez à 25 anos atrás, quando em Setembro de 1980 participei pela primeira vez numa escavação arqueológica (Castelo de Alcácer do Sal - Depósito, direcção cientifica de Carlos Tavares da Silva). Na altura ele e eu eramos estudantes do secundário, mas ele já sabia imenso de arqueologia romana. Lembro-me como se fosse hoje que ele pediu-me para eu ir para o crivo, para recolher cerâmica romana, especialmente a terra sigilata. Eu só lhe disse - o quê? sigi quê?.... E como é que eu conheço a cerâmica?..... para mim é tudo igual.
Ele disse- Têm calma que passado alguns dias vais conhecendo os materiais.
Desde essa altura fiquei a gostar de Alcácer, mas por questões profissionais fui trabalhar para Palmela onde estive 17 anos a trabalhar em arqueologia. Nunca deixei Alcácer e com a ajuda dele fui publicando alguns trabalhos e um livro, tendo-me dedicado ao estudo do periodo islâmico.
Entretanto e ao fim de 25 anos, houve situações que mudaram e ele convidou-me para vir trabalhar para o Gabinete de Arqueologia de Alcácer. Não me esqueço de ele me ter dito que seria uma mudança para sempre.
Entretanto começamos a escavação da vila romana de Santa Catarina de Sítimos que tinha sido o seu primeiro trabalho de direcção arqueológica em 1986. Ele gostava imenso deste arqueossítio e queria por tudo levar o projecto em frente e criar um nucleo museológico impar nesta região. Quase todos os dias de manhã vinha até cá para ver as novidades arqueológicas e falarmos sobre as novidades arqueológicas. O seu grande sonho era encontrarmos um painel de mosaicos.
Estimado amigo vamos continuar este projecto e outros e vamos sentir muito a tua falta. Como têm dito alguns colegas e amigos, morreu o João Carlos Lázaro Faria e nós um pouco mais.
António Rafael Carvalho, Fernando Jerónimo, Vitor Cardim e José Paulo.
( Equipa de Arqueologia da Câmara Municipal de Alcácer)
Transcrição de algumas mensagens de colegas e amigos do nosso João Faria, que têm circulado pela internet.
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Infelizmente, no espaço de 15 dias morreram-nos dois colegas e amigos.Morreu o João Carlos Lázaro Fariae nós mais um pouco com ele.Laura Trindade e Dias Diogo
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Como já Laura Trindade teve ocasião de noticiar, acaba de falecer, em Reguengos, onde estava a passar o fim-de-semana com a família, vitimado - segundo tudo leva a crer - por um ataque cardíaco fulminante, Mestre João Carlos Lázaro Faria, arqueólogo e actual vereador do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Alcácer do Sal.
À sua esposa, Marisol Aires Ferreira, também ela arqueóloga (a trabalhar na Câmara de Grândola) e a seus dois filhos (Duarte, de 18 anos, e Susana, de 14) apresentamos as mais sentidas condolências.
A notícia deixa natural e profundamente consternada a comunidade arqueológica nacional que, em tão curto espaço de tempo, vê desaparecer do seu seio figuras que, cada uma à sua maneira, eram uma referência de renome.
João Carlos Lázaro Faria (o «João Alentejano», como era conhecido pelos seus condiscípulos e professores) nascera em Alcácer do Sal a 4 de Junho de 1960. Licenciou-se em História (variante de Arqueologia) na Faculdade de Letras de Coimbra (1985) e fez o Mestrado em Arqueologia Romana na Faculdade de Letras do Porto, em 1998, tendo aí defendido com brilhantismo a dissertação Subsídios para o Estudo da Romanização no Curso Inferior do Rio Sado.
Exerceu sempre grande actividade em prol da cultura em Alcácer do Sal, tendo ocupado, a partir de 1985, o cargo de Conservador do Museu Municipal. Nesse concelho realizou inúmeras intervenções arqueológicas, cujos resultados sempre foi publicando, nomeadamente nas páginas da revista Conimbriga.
A sua obra de vulto mais recente foi o livro Alcácer do Sal ao Tempo dos Romanos (edição conjunta da Câmara e da Colibri, Maio de 2002). Um dos achados mais importantes da sua carreira terá sido, sem dúvida, a tabella defixionis exumada durante as escavações que dirigiu no santuário de Alcácer do Sal, cujo estudo tive a honra de assinar com ele para o catálogo Religiões da Lusitânia - Loquuntur Saxa: «O santuário romano e a defixio de Alcácer do Sal», Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa, 2002, p. 259-263.
Perde Alcácer do Sal um dos seus filhos mais ilustres; perde a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra um dos seus ex-alunos mais distintos; perde a Arqueologia nacional um dos seus membros mais activos e dedicados, sempre afável e solícito a ajudar, a disponibilizar os elementos novos que ia encontrando, numa zona - como era a sua - rica em potencial arqueológico do maior alcance.
Renovando os pêsames à família assim tão bruscamente enlutada, curvamo-nos perante a sua memória de incansável lutador, de cuja actividade muito havia a esperar.
Que descanse em paz!
José d'Encarnação
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O ano de 2006 está a revelar-se um ano terrível para a Arqueologia. Soube agora do falecimento súbito do meu ex-aluno, Mestre Lázaro Faria. Lembro-me bem dele e da coragem que teve, quando foi preciso, para enfrentar nomes que se habituaram a não ser contrariados, menos ainda por arqueólogos portugueses.
Mas essas coisas, pelos vistos, pagam-se com a saúde, para não falar já de outras sequelas.
À família enlutada os meus sentidos pêsames.

Vasco Mantas
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Soube há pouco, com muita tristeza e alguma estupefacção, do falecimento do João Faria, conhecido entre nós, estudantes de Arqueologia de Coimbra na primeira metade da década de 1980, com a carinhosa alcunha de "João Alentejano".O João sempre foi um dos mais inconformados com a situação que a Arqueologia Portuguesa vivia naqueles tempos, lutando contra tudo e contra todos para conseguir o seu pequeno mas merecido lugar ao sol, como bem refere o Prof. Vasco Mantas.À Marisol, aos seus filhos, restante família, amigos e companheiros de trabalho, apresento as minhas mais sentidas condolências, neste momento de profundo pesar.João, que a terra te seja leve!
Paulo Félix

4 comentários:

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  2. Assim que li a notícia no jornal, pensei de imediato neste blogue, no seu autor e no grupo de trabalho. Mesmo sem ter conhecido a pessoa causa, creio que lamento o seu desaparecimento porque todos ficamos um pouco mais pobres.

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  3. Anónimo19/6/06

    Dr. João Faria

    Conheci João Faria há menos de um ano, mas logo reconheci nele, um amigo natural, um espírito puro, que estava na politica
    desinteressadamente, cheio de chama e alma pela sua terra.
    Há dias abordei-o para me elaborar um trabalho de arqueologia para um projecto empresarial. Imediatamente se disponibilizou e que embora muito ocupado, "minha mulher também é arqueóloga e ajuda-me"
    Perguntei-lhe sobre os honorários ao que respondeu,
    instintivamente: "como é para bem do concelho, é de graça"
    Me parece que este episódio retrata bem a personalidade e o homem bom que era João Faria, que me deixa saudade.
    O Concelho e a Câmara perdem um bom Vereador da Cultura.
    A sua família os mais sentidos pêsames.

    Vilela Borges

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  4. O nosso amigo João Faria deixou-nos fisicamente, mas as suas ideias, os seus projectos para o melhor da sua querida Alcácer continuam de pé e acho a titulo pessoal que uma das melhor homenagem que poderemos fazer é continuar a obra que só agora tinha começado.
    Para quem o conheceu, ele não desaparece e têm um espaço próprio nas nossas memórias e para os outros ficam as suas palavras e sabedoria nos trabalhos que nos deixou.
    Tambem já recebi por email o impacto que a sua morte teve na comunidade arqueológica espanhola.
    Vai um ilustre alcacerense mas fica a obra.....Que a sua alma descanse em paz.

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